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PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

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Pós-vacina
Juliana Petermann 
Professora universitária

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Desde o início da pandemia, acompanhamos notícias de pesquisas que estão sendo desenvolvidas na corrida por uma vacina. Tais notícias, no entanto, não chegam a empolgar. Mas na última semana, confesso que me vi confiante ao ler sobre o desenvolvimento da CoronaVac pelo Instituto Butantan em São Paulo. De acordo com o UOL, o governo de São Paulo diz que até dezembro terá um estoque de 6 milhões de doses importadas da China e que outras 40 milhões serão produzidas pelo Instituto, o suficiente para imunizar todo o Estado. Embora saibamos os entraves sanitários, políticos e econômicos para a realização dessa imunização e, mais, para a imunização do país inteiro, gostei de me deixar levar pelo otimismo. Em isolamento desde março, gostei de imaginar o dia em que irei até o posto de saúde e sairei de lá sem máscara e com dificuldade de me livrar do vício de passar álcool gel a cada minuto, estando fora de casa. Já me imagino saindo de lá, podendo coçar o nariz e com vontade de abraçar a primeira pessoa que encontrar na rua.

O QUE FAZER QUANDO TUDO ISSO ACABAR?

Gosto quando a minha imaginação me dá concretude. E gostei de pensar no que farei assim que esses dias estranhos findarem. Lembrei de uma espécie de jogo, que os apresentadores do podcast Café da manhã da Folha fizeram, no qual se perguntaram: se você soubesse que a pandemia duraria tanto tempo, como tem durado, o que você faria antes de tudo isso começar? A jornalista responde que cortaria o cabelo e tomaria uma cerveja em um boteco. Já o jornalista diz que encontraria amigos que ainda não tinha visto depois de voltar de uma viagem. Mas e se projetarmos essa pergunta para o futuro, querendo saber qual a primeira coisa a ser feita no pós-vacina? Um carnaval fora de época? Uma festa de aniversário coletiva para comemorar todos que viraram uma chamada de vídeo? Um réveillon para celebrar um novo início de 2020? Um festival com todos os shows que viraram live? Voltar do supermercado sem higienizar nadinha? Comprar vários batons novos para sair, sem máscara, colorindo por aí? Eu tenho vontade de sair para caminhar nas ruas de Santa Maria. Como fui mãe no período pandêmico, quero que meu filho experimente passear livremente, sentar comigo na praça, tocar tranquilamente nas coisas e nas pessoas e que conheça outros sorrisos. Quero observar as pessoas caminhando sem medo e reparar nos reencontros. Quero poder considerar qualquer distância segura e não ficar julgando qualquer aglomeração. E você? O que você fará depois que tudo isso acabar?

Era uma vez o Leblon
Eni Celidonio 
Professora universitária

style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">E aí você está com seu filho num restaurante típico do Leblon, na Dias Ferreira, e passa um Peugeot conversível (que eles chamam de cabriolet) com duas mulheres de biquíni, com posturas... Digamos... Nada angelicais. Fico pensando isso na Presidente. O que aconteceria? Lá jogaram um copo d'água. Aqui jogariam o quê? Uma cuia de chimarrão? Sei lá. Mas é complicado.

Primeiro que, se fosse eu que estivesse no restaurante, eu ficaria quieta e pediria mais um chope. Ah... Mas tem uma criança ali! É mesmo? Com o advento da internet e da TV fechada, acredito que pouca coisa pode chocar uma criança. Na verdade, se queremos criar um filho dentro de uma redoma de vidro, comecemos por não deixar que ele veja TV e nem que ande na rua. A gente não pode controlar os outros. As Culturas são diferentes, as posturas são diferentes, as reações são diferentes.

QUE FRIO!

Eu contei da minha mudança pra Bagé. Pois bem. Cheguei na cidade à noite com um problemão: achar panelas pra fazer as mamadeiras pro filhote. O segundo problema foi mais complicado... Gente: que frio! Taí, eu queria ver alguém passar num carro conversível pela rua Sete de Setembro de biquíni... Aí tinha que respeitar. O tal do vento Minuano entra pela pele, eu juro! Não tem o que bloqueie aquela desgraça! E quando o copo de água chegasse ao destino, com certeza ia machucar a menina, porque da mesa do restaurante até o carro, a água do copo já teria virado gelo.

Aí vocês perguntam: mas há alguma possibilidade disso acontecer em Bagé? Não sei. O que eu sei é que as pessoas estão divididas em duas espécies: aquelas que desafiam e as que ficam injuriadas. Tudo que se fala tem que ser milimetricamente estudado, com suas respectivas consequências. A gente não pode mais ser a gente, tem que ser o que os outros querem que sejamos. Da mesma forma, não podemos falar o que pensamos, mas o que os outros querem que pensemos.

Ora bolas... É claro que não estou me imaginando de biquíni descendo a Fernando Ferrari, porque aí já seria atentado ao pudor, ou insanidade mental. O que estou pensando é o que leva alguém a desfilar por uma rua badalada do Leblon, num horário que nem tem mais sol, de biquíni. Ou pior: o que leva alguém a jogar um copo d'água numa moça que está se mostrando para o povo. Seria inveja? Porque, fala sério, o que é o corpo daquela mulher, gente? Quando ela salta do carro a gente pode mesurar o estrago na nossa autoconfiança...

E vamos seguir politicamente corretos! Ou não? Haja!


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